sexta-feira, 18 de maio de 2012

Morte digna

O senado da Argentina aprovou por unanimidade, no dia nove de maio, depois de mais de quatro horas de discussão, o projeto lei conhecido como “Lei da Morte Digna”, que permite ao paciente sem qualquer perspectiva de melhora rejeitar tratamentos médicos capazes de prolongar a sua vida de maneira artificial, inclusive, recusar a manutenção de alimentação e hidratação por sonda.

O texto, que já havia passado em novembro pela Câmara dos Deputados daquele país, modifica a lei sobre os Direitos dos Pacientes em sua Relação com os Profissionais e Instituições de Saúde, e estabelece que o paciente conta com “o direito de aceitar ou recusar determinadas terapias ou procedimentos médicos ou biológicos, com ou sem expressão de causa, como também de que sua vontade seja invocada posteriormente”.

Na prática, a iniciativa estabelece que o paciente que apresentar uma “doença irreversível, incurável ou se encontre em um estado terminal” pode manifestar sua vontade quanto à recusa “de procedimentos cirúrgicos, de reanimação artificial ou quanto à retirada de medidas de suporte vital”.

A suspensão de tais cuidados deve ser realizada mediante autorização deixada por escrito pela pessoa, sendo permitido que mude de ideia quantas vezes quiser. Caso esteja impossibilitada, um familiar próximo conta com a prerrogativa de fazer valer a sua vontade.

O texto, porém confirma que a eutanásia continua sendo crime na Argentina, ou seja, que os profissionais envolvidos na prática mantêm-se sujeitos as punições de ordem cível, penal e administrativa.

Hidratação e alimentação
O item que causou a maior polêmica entre os senadores referiu-se à possibilidade de suspensão de alimentação e hidratação via sonda.

A senadora Sonia Escudero, por exemplo, deixou claro: “sou a favor do texto, mas contra a permissão para a suspensão da alimentação e hidratação dos doentes terminais. Isto é contra a morte digna, já que provoca dor e, além disso, desrespeita as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Já na opinião do bioeticista Dan Brock, da Universidade de Harvard, ao retirar os tubos, o profissional de saúde está tornando o processo de morte “mais confortável, não menos, pois todas as evidências sugerem que isto não causa sofrimento”.

Seguindo a tendência de opiniões divergentes, as condutas variam entre as nações: por exemplo, nos EUA, alimentação e hidratação artificiais são consideradas como tratamentos médicos – e, portanto, podem ser retiradas ou não implantadas se o paciente não desejar prolongamento artificial de vida.

Especialistas brasileiros, por sua vez, mantêm-se distantes de um consenso sobre se alimentação e hidratação artificiais correspondem a tratamentos médicos ou a cuidados básicos. (Veja matéria específica nos arquivos do centro de Bioética)

Com a aprovação pelos senadores, a Argentina torna-se um dos poucos países no mundo a permitir a “morte digna”, ao lado de Holanda, Bélgica e Luxemburgo.

Fontes: BBC Brasil; site do Jornal Nacional; USA Today e site da rede CNN

do site Centro de Bioética do Cremesp

Nenhum comentário: