sábado, 30 de maio de 2020

Coronavírus e saúde mental. Tire suas dúvidas aqui!

Por: Fiocruz Brasília  14/04/2020

Em meio à pandemia, os cuidados com a saúde precisam ser redobrados. Toda a situação pode afetar também a saúde mental das pessoas, aumentando a ansiedade, insegurança, tristeza e outros sentimentos diante do isolamento social e das incertezas.

 Durante a terceira edição do Conexão Fiocruz Brasília, a instituição recebeu e ainda tem recebido por e-mail e pelas mídias sociais muitas perguntas sobre o novo coronavírus e a saúde mental. Para responder essas questões, em conjunto com a pesquisadora Débora Noal e a equipe do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) da Fiocruz, criamos um guia de perguntas e respostas, que você confere abaixo. 

 Leu o guia, mas não encontrou a resposta que procurava? Não se preocupe. A página está em permanente atualização e, em breve, teremos mais informações aqui. Inclusive, as respostas poderão ser atualizadas conforme avançam as evidências científicas sobre o assunto. Não deixe de acessar o nosso site e indicá-lo aos amigos e à família.  Informação de confiança e qualidade é a melhor prevenção!

SENTIMENTOS/EFEITOS COLATERAIS DO DISTANCIAMENTO SOCIAL E DA PANDEMIA

 Quais danos psicológicos desse confinamento para a população? A piora do estado de saúde mental das pessoas em época de quarentena é real?

 RESPOSTA: Durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados. Entretanto, é importante destacar que nem todos os problemas psicológicos e sociais apresentados poderão ser qualificados como doenças. A maioria será classificada como reações normais diante de uma situação anormal.

 Como lidar com as frustrações geradas pelo impacto do coronavírus?

 RESPOSTA: Entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, destacam-se, entre outras:

Reconhecer e acolher seus receios e medos, procurando pessoas de confiança para conversar;

Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas à pandemia.

Como se manter informado e lidar com a expectativa de piora do quadro de contaminação e mortes sem ter crises de ansiedade? Como evitar pensar nos cenários futuros (de doença e crise econômica)?

 RESPOSTA: Entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, destacam-se, entre outras:

Buscar fontes confiáveis de informação, como o site da Organização Mundial da Saúde;

Reduzir o tempo que passa assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas.

O que recomendam para as pessoas que moram só, incluindo as que vivem fora do país? Como lidar com a solidão?

 RESPOSTA: Entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, destacam-se, entre outras:

Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas;

Investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário).

Quais sugestões prioritárias e de fácil ação para os que estão em casa e já se sentem solitários e desmotivados?

 RESPOSTA: Entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, destacam-se, entre outras:

Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenha usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional;

Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente), bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia.

Como fazer para diminuir a sensação de que sempre estamos sujos? Acho que estou desenvolvendo TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Lavo o banheiro repetidamente todos os dias!

RESPOSTA: Durante uma pandemia, pensamentos e atitudes recorrentes sobre a saúde da nossa família (como as ações relacionadas à higienização da casa) estão entre as reações comportamentais mais comuns. Alguns critérios para determinar se uma reação psicossocial considerada esperada está se tornando sintomática e precisará ser encaminhada são: sintomas persistentes; sofrimento intenso; comprometimento significativo do funcionamento social e cotidiano; dificuldades profundas na vida familiar, social ou no trabalho etc. Nesses casos, e quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional, deve-se buscar um profissional de saúde.

 Como lidar com a procrastinação nos afazeres com tanto tempo disponível e não se culpar por isso? Como controlar o distúrbio alimentar com o aumento da ansiedade?

 RESPOSTA: Durante uma pandemia, letargia e alterações de apetite estão entre as reações comportamentais mais comuns. Alguns critérios para determinar se uma reação psicossocial considerada esperada está se tornando sintomática e precisará ser encaminhada são: sintomas persistentes; sofrimento intenso; comprometimento significativo do funcionamento social e cotidiano; dificuldades profundas na vida familiar, social ou no trabalho etc. Nesses casos, e quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional, deve-se buscar um profissional de saúde.

Qual a importância de coletividade para o enfrentamento da quarentena?

RESPOSTA: Ela é muito importante. Entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, destaca-se estimular o espírito solidário e incentivar a participação da comunidade.

 Quais os impactos da pandemia principalmente para os profissionais da saúde e pessoas com transtornos mentais?

RESPOSTA: O contexto de pandemia requer maior atenção ao trabalhador de saúde: ele está mais sujeito a ter sua saúde mental afetada, seja por situações vivenciadas direta ou indiretamente. É recorrente o aumento dos sintomas de ansiedade, depressão, perda da qualidade do sono etc. Os familiares dos profissionais de saúde também estão mais propensos a apresentarem sofrimento psíquico durante a pandemia.

 Esse contexto também pode provocar a descompensação de transtornos psíquicos preexistentes. Por isso, uma das linhas de ação consiste em atenção clínica especializada direta a pessoas que apresentam demandas mais complexas ou que já tenham histórico de distúrbios, transtornos e adoecimentos psicopatológicos anteriores à epidemia.

Quais as estratégias de saúde mental que podem ser usadas com a população economicamente vulnerável, que não tem recursos básicos mínimos para a sua sobrevivência e se preocupam com a falta de alimentos e de insumos básicos?

 RESPOSTA: O novo coronavírus e as populações em situação de vulnerabilidade e de rua foi o tema da terceira edição do Conexão Fiocruz Brasília, que pode ser conferida aqui

 Será que estamos usando o termo correto de isolamento social? Não seria mais correto se usar afastamento físico? Não estamos todos muito ativos e conectados em redes sociais?

 RESPOSTA: Sim, o afastamento é físico e, inclusive, recomenda-se, entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas.

Como lidar com vícios nesse período de quarentena? Qual a recomendação para as famílias nas questões relacionadas a uso abusivo álcool como fuga de contato com este momento?

 RESPOSTA: A recomendação é evitar o uso de tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções. Quando a primeira fase da epidemia não recebe um suporte adequado em saúde mental e atenção psicossocial, pode-se encontrar, depois, um grande número de pessoas com problemas como depressão, consumo excessivo de álcool e outras drogas, comportamento violento etc.

 Como ajudar uma pessoa que está com muita ansiedade e nunca realizou tratamento, mas devido às crises passar a ter sintomas parecidos com o do coronavírus?

 RESPOSTA: Durante uma pandemia, reações como essa não são incomuns e existem estratégias para lidar com elas, como investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente), bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia. Entretanto, caso as estratégias recomendadas não sejam suficientes para o processo de estabilização emocional, é importante buscar auxílio de um profissional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial (SMAPS) para receber orientações específicas.

Depois que isso passar, será que vamos vivenciar um aumento dos números de suicídio?

 RESPOSTA: A violência doméstica e a conduta suicida são complicações graves que podem estar associadas ao contexto de pandemia. Isso reforça a importância do acolhimento e da garantia de atenção psicossocial para situações emergenciais, como crise psicótica e tentativa de suicídio, entre outras. Reforça também que as estratégias de intervenção em saúde mental são importantes “antes”, “durante” e “depois” da epidemia.

Leia mais nas cartilhas Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – recomendações para gestores

 SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE E FAMILIARES

 Qual orientação para os gestores e profissionais de saúde que trabalham diretamente com a assistência? Como incentivar os profissionais que estão na linha de frente dos atendimentos aos doentes? Como diminuir ou minimizar o medo e ansiedade da equipe e dos profissionais de saúde?

RESPOSTA: No cuidado psicossocial aos trabalhadores de saúde, entre outras iniciativas, recomenda-se:

Fazer um acompanhamento relativo ao bem-estar da equipe de forma regular, deixando-a à vontade para falar sobre seu estado mental e sua capacidade de trabalho;

Municiar a equipe com conhecimento sobre a doença e treinamento sobre o uso adequado dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs);

Alternar os trabalhadores entre atividades de alta e baixa tensão;

Cuidar para que existam espaços adequados para alimentação e descanso;

Garantir que os trabalhos sejam realizados em turnos definidos, com descanso regular;

Divulgar ações de cuidado em saúde mental disponíveis para os trabalhadores, como suporte psicológico online, equipes de saúde mental que possam atendê-los e/ou atuar junto a eles in loco com os pacientes, até núcleos de saúde do trabalhador.

 Como cuidar da saúde mental da família dos profissionais que não podem parar? Qual a melhor estratégia para ajudar os profissionais de saúde quando têm medo de se contaminar e contaminar a família?

 RESPOSTA: Trabalhadores de saúde e também seus familiares estão mais propensos a apresentarem sofrimento psíquico durante a pandemia. É importante que os profissionais busquem colegas de trabalho e supervisores que possam compartilhar das mesmas dificuldades, buscando soluções compartilhadas. Garantir comunicação de boa qualidade e atualizações precisas das informações pode ajudar a atenuar as preocupações com as incertezas que os trabalhadores têm. É importante realizar reuniões periódicas com a equipe, onde as questões que surgirem possam ser faladas por todos. Manter a equipe protegida contra estresse crônico e problemas de saúde mental significa que ela terá uma melhor capacidade para desempenhar suas funções. Não responsabilize individualmente o trabalhador que não estiver conseguindo lidar com a situação.

 O que propor no ambiente hospitalar para melhorar o trabalho dos profissionais? Como cuidar da saúde mental do profissional de saúde nesse período? E após?

 RESPOSTA: Mesmo após a pandemia, é fundamental atenção à saúde mental das equipes que trabalharam na linha de frente, particularmente daqueles profissionais que trabalharam junto aos casos mais graves.

Como trabalhar com o luto?

 RESPOSTA: Entre os princípios básicos para a elaboração de um plano de resposta em saúde mental e atenção psicossocial para a pandemia Covid-19, destaca-se criar condições para o desenvolvimento de funerais e ritos de passagem culturalmente aceitos que garantam a biossegurança, mas que permitam que os ritos culturais sejam realizados, a fim de mitigar os impactos de um possível luto patológico.

 Como você vê o atendimento online? E os grupos terapêuticos online? Quais são as principais ferramentas de mediação? Como abordar os públicos diversos no atendimento e acolhimento, uma vez que nosso contato agora se dá virtualmente?

 RESPOSTA: O atendimento online apresenta vantagens para a oferta de suporte psicossocial durante a COVID-19, uma vez que corrobora com as recomendações de distanciamento social, quarentena e/ou isolamento domiciliar. Dessa forma é possível evitar a circulação desnecessária e, ao mesmo tempo, garantir atendimento psicossocial e/ou psicoterápico de qualidade. A migração para o atendimento remoto exige adequações da prática do psicólogo para o atendimento deve seguir o código de ética das categorias profissionais, informações dos conselhos profissionais e autoridades sanitárias.

 Muito se fala dos profissionais de saúde das linhas de frente, mas existe tbm um exército auxiliar que ainda está invisível. Limpeza, alimentação, etc, também estão atuando junto e sofrendo. Como cuidar?

 RESPOSTA: Os cuidados – acompanhamento relativo ao bem-estar, espaço para falar sobre suas emoções e estado mental, informações acessíveis, treinamento sobre uso de EPIs etc. – devem se estender igualmente a todos os trabalhadores envolvidos, nas diferentes funções.

Leia mais nas cartilhas Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – recomendações para gestores

 SE ISOLAR OU NÃO … EIS A QUESTÃO

 O que fazer ao presenciar casos de agressão física de vizinhos? O número de mulheres agredidas têm aumentado, mas em caso de denúncia não sei o que mudaria neste período de epidemia…

RESPOSTA: O aumento da violência doméstica é uma complicação grave que pode estar associada ao contexto de pandemia.  Como profissional de saúde, é preciso estar particularmente atento ao aumento da violência doméstica para o devido registro de casos e seu encaminhamento às esferas competentes, para a punição dos agressores.

 Que fases ou estágios costumamos ter que vivenciar nas pandemias?

 RESPOSTA: Na estruturação de um plano de resposta em saúde mental e atenção psicossocial, é fundamental compreender o “antes”, o “durante” e o “depois”. Para cada fase, é importante compreender os impactos e as demandas da população de modo que os gestores possam implantar as estratégias adequadas.

Leia mais nas cartilhas Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – recomendações para gestores

SAÚDE MENTAL DAS CRIANÇAS/ ADOLESCENTES/ALUNOS

 Compartilhe conosco experiência com o cuidado da saúde mental da infância e adolescência em período de crise.

 RESPOSTA: Crianças têm uma forma diferente do adulto de compreender a pandemia e de comunicar seus sofrimentos e pesares. É importante, portanto, pensar estratégias de cuidado específicas para elas. Algumas crianças negam completamente ou se mostram indiferentes quando confrontadas com situações que causam grande sofrimento, como o afastamento dos avós, colegas e professores da escola. O impacto emocional gerado pelo sofrimento agudo, quando não adequadamente manejado, pode ser tão grave que as crianças se recusem a falar sobre o que viveram. Ajude as crianças a encontrar maneiras de expressar sentimentos, por meio de atividades criativas, como brincar e desenhar.

 SAÚDE NAS ORGANIZAÇÕES/EMPRESAS

Como orientar em relação a saúde mental dos que trabalhadores dentro das indústrias que não podem ficar em casa?

 RESPOSTA: Se você estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho e entre os turnos (se possível em um local calmo e relaxante). Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual. É importante que todos os trabalhadores tenham acompanhamento relativo ao seu bem-estar, espaço para falar sobre suas emoções e estado mental, informações acessíveis, treinamento sobre uso de EPIs etc.

 

VARIEDADES

 Qual a importância do exercício físico?

 RESPOSTA: É importante investir em ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo. O exercício físico pode ser uma dessas ações.

 Como deve ser o cuidado com as crianças, em especial com aquelas que precisarem ser hospitalizadas?

RESPOSTA: Pesquisadores colaboradores do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) respondem na cartilha Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – recomendações para o cuidado de crianças em situação de isolamento hospitalar.

 A abordagem dos Cuidados Paliativos pode ser útil no contexto da pandemia de Covid-19?

RESPOSTA: Pesquisadores colaboradores do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) respondem na cartilha Saúde e Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – cuidados paliativos – orientações aos profissionais de saúde.

 

 do site: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/coronavirus-e-saude-mental-tire-suas-duvidas-aqui/

em 30 de maio de 2020


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