quinta-feira, 3 de outubro de 2013

No século XXI, o flagelo da fome persiste


01/10/2013 - 17:45

Relatório da ONU mostra que mais de 840 milhões ainda passam fome e que maioria dos países não cumprirá meta prevista para 2015
Uma em cada oito pessoas está cronicamente desnutrida. É o que aponta o relatório Situação de Insegurança Alimentar no Mundo, divulgado nesta terça-feira (1o), por agências da Organização das Nações Unidas ligadas à alimentação. De acordo com o documento, cerca de 842 milhões de pessoas em todo o mundo sentiram fome aguda entre 2011 e 2013.
Houve uma diminuição no número de pessoas alcançadas pelo flagelo, mas não o suficiente para que seja atingido o Objetivo do Milênio (ODM) de reduzir pela metade a prevalência da fome no mundo em 2015, advertem as agências. Entre 2010 e 2012, cerca de 868 milhões de pessoas estavam desnutridas, 26 milhões a mais que no atual período.
O crescimento econômico continuado nos países em desenvolvimento melhorou a renda e o acesso à comida. Contudo, a maioria dos famintos ainda vive nesses territórios, enquanto apenas 15,7 milhões estão em países desenvolvidos.
Esforços adicionais e imediatos
O relatório reforça que as regiões em desenvolvimento fizeram significativos progressos com o propósito de alcançar a meta do ODM para a redução da fome. Mas a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (IFAD) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), integrantes da ONU e responsáveis pelo documento, solicitaram esforços “adicionais e imediatos” aos países para o alcance do objetivo.
“Políticas voltadas para a melhoria da produtividade agrícola e aumento da disponibilidade de alimentos, especialmente quando os pequenos produtores que são o foco das ações, podem promover a redução da fome até mesmo onde a pobreza está espalhada. Quando são combinadas com proteção social e outras medidas que aumentam a renda de famílias pobres, podem ter um efeito ainda mais positivo e induzir o desenvolvimento rural, por meio da criação de mercados vibrantes e oportunidades de emprego, resultando em crescimento econômico equitativo”, disseram os diretores da FAO, IFAD e PMA, José Graziano da Silva, Kanayo F. Nwanze e Ertharin Cousin.
O documento reforça que a população de renda mais baixa, particularmente nas áreas rurais, deve estar no foco das ações. “Nos países pobres, a redução da fome e da pobreza somente será obtida com o crescimento que seja não apenas sustentável, mas também amplamente compartilhado”, destaca o relatório.
África: contrastes entre experiências exitosas e dados alarmantes
O continente africano conseguiu reduzir o índice de desnutrição de 27,3% no triênio 1990/1992 para 21,2% entre 2011 e 2013. No entanto, em números absolutos, uma maior parcela da população passou a ser vitimada pela fome – de 177 milhões de pessoas no início da década de 1990 para 226 milhões em 2013. O índice deve-se ao aumento populacional do continente e às disparidades nos indicadores de cada país. A África reúne a maior prevalência mundial de atingidos pela fome – um em cada quatro africanos está desnutrido.
O maior quantitativo encontra-se na África Subsaariana – onde 24,8% da população está em situação de insegurança alimentar. Ainda assim, houve uma redução de 7,9% em 20 anos. A África do Norte destaca-se, segundo o relatório, como tendo “prevalência muito menor e progresso mais rápido”, com 3,7 milhões de famintos. “A região não está a caminho de atingir os Objetivos do Milênio devido ao pouco progresso em ambas as partes do continente”, avalia a publicação.
O caso de Gana é tratado pelo relatório como uma “história de sucesso”. O robusto crescimento econômico ao longo das últimas três décadas – com média anual de crescimento do PIB de 4,5%, estabilidade política e reformas de mercado – resultaram em cenário favorável a investimentos. Como consequência, menos de 5% da população estava desnutrida entre 2011 e 2013.
Desafios e caminhos
Entre as razões para explicar os indicadores africanos negativos, o documento das Nações Unidas aponta a dependência regional da importação de alimentos, que os tornam suscetíveis a oscilações de preços de commodities; limitações de infraestrutura; guerras civis e baixo acesso a água potável. Em contrapartida, o crescimento econômico; o aumento na taxa de investimentos oriundos de outros países e incrementos na produção agrícola integram os fatores que contribuíram para aumento da segurança alimentar não só em países africanos, como na Ásia.
“Em alguns países, os fluxos de remessas dos emigrantes têm ajudado estimular o crescimento interno. As remessas aumentaram o investimento de pequena escala, que foi particularmente benéfico para o crescimento onde a produção e distribuição de alimentos ainda contam com redes de pequena escala e local. Isso vale em especial para os países da África Subsaariana, onde uma combinação de maior produtividade das culturas e aumento da produção de gado levou à redução da desnutrição”, relata o documento.
Brasil: redução de 40% em 20 anos
Entre 1992 e 2013, o número de brasileiros que passa fome reduziu de 22,8 milhões para 13,6 milhões, aponta o relatório da FAO. Em outros termos, 40% a menos de pessoas passam fome no país. Proporcionalmente ao total da população, o índice caiu de 15% em 1992 para 6,9% entre 2011 e 2013 – uma redução de mais de 54%.
Para a FAO, o crescimento econômico estável e o incremento nos níveis de renda melhoraram o acesso à comida não só no Brasil, mas em outros países em desenvolvimento que apresentaram melhoras significativas na segurança alimentar.
Em junho deste ano, a organização premiou o Brasil e outros 38 países por terem atingido a meta do milênio para a desnutrição antes de 2015, prazo final.
A FAO define desnutrição ou fome como “não ter comida suficiente para uma vida ativa e saudável” e uma incapacidade de “atender às necessidades energéticas da dieta”.
Redação do brazilafrica com informações da FAO
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