sábado, 14 de janeiro de 2017

Luto e crianças

Aurora: Erika Pallottino -psicóloga no Instituto Entrelacos



Hoje eu me perdi dentro do cemitério. Meu querido tio-avô morreu, e o sepultamento aconteceu em um cemitério grande e conhecido aqui no Rio. Até chegar na capela fiquei rondando pelo cemitério entre lápides e jazigos. Perdida. Muito perdida. Eu me perco naturalmente, meu gps é super furado, mas em um cemitério, foi a 1a vez.  Andando para cima e para baixo, entre pequenos espaços, senti medo, senti pena, senti dor, senti saudade dos meus queridos que já se foram. A atmosfera de um cemitério é realmente diferente de qualquer outra. A morte, nesse longe-perto que o cemitério nos apresenta, parece que fica perto demais. A morte tem nome, tem data, tem biografia, tem história, tem classe social.
Estava calor, o cemitério estava movimentado para um dia útil em plena tarde.
Andando por ali, pensei nesse círculo da vida onde muitas pessoas morrem, mas outras tantas nascem. Um ciclo curioso que se auto-renova o tempo todo.
Perdida, fui caminhando em uma reta, onde me deparei com um túmulo de uma criança, chamada Ruthinha. A lápide tinha diversos dizeres, gravados em um mármore branco e suntuoso: "Papai já está com saudades.", "Filha querida." , "Filha amada, querida e muito desejada."
Parei, olhei para o túmulo de Ruthinha e pensei em seus pais. Senti uma leve angústia pela sua morte. Parecia que eu sabia quem era essa família.
Mais para frente, passava um cortejo. Pessoas andando de cabeças baixas, seguindo num passo lento até o local do sepultamento. Tinham crianças no meio dos adultos. Achei bom. Crianças e cemitério não são incompatíveis.
Quando, finalmente, me encontrei, percebi o movimento na capela ao lado da que o meu tio estava sendo velado. Me deparei com mais crianças circulando, e muitas delas choravam. Alguns adultos as colocavam no colo e acolhiam o seu choro. Não sei se, naquela capela ao lado estava sendo velada uma criança ou um adulto muito importante para aquelas crianças, mas alguém significativo estava ali.
Bom, o fato é: mais crianças circulavam por ali, enlutadas, pranteavam a sua dor.
Seguimos nós, a família, no cortejo para a despedida final do meu querido tio. No meio de nós, no colo de um adulto, uma criança acompanhava tudo. Ela, assim como os adultos que estavam junto dela, faziam um respeitoso silêncio. Que chance importante esses adultos ofertaram a essa criança, pensei. E ela, pela sua postura e gesto, entendia claramente o que ali estava acontecendo.

No meio desse dia desafiante, tenso e que, desde de ontem ficou triste com a partida de mais uma pessoa especial da família, a percepção dessas crianças circulando naturalmente, livremente, tranquilamente pelo cemitério me fez pensar na capacidade que elas têm de gerenciar as suas emoções quando, um adulto disponível topa acompanhá-las.
No meio da dor do dia de hoje, um respiro de bem estar me invadiu ao avistar a morte que se aproxima de todos nós, não como ameaça, mas como caminho natural da existência, da impermanência da vida. E essa sensação aconteceu, sobretudo, por ter observado a circulação dessas crianças.
Encontrar crianças no cemitério, acompanhadas por adultos acolhedores, foi muito importante para todo o trabalho que vem sendo desenvolvido por mim, por um tanto de profissionais legais que conheço, e pelo Instituto Entrelaços, no que se refere ao potencial e a capacidade que as crianças têm para enfrentar, suportar e viver, legitimamente, o seu processo de luto.
<3

domingo, 8 de janeiro de 2017

Café filosófico 3 - Geriatra Claudia Burlá - Cuidados Paliativos: ciência e proteção ao fim da vida

Assista o vídeo editado aqui no Vimeo

cuidados paliativos: ciência e proteção ao fim da vida
com claudia burlá, médica geriatra e doutora em bioética pela universidade do porto
cuidados paliativos são uma modalidade de intervenção indicada para pessoas com doença prolongada, incurável e progressiva, a fim de prevenir e aliviar o sofrimento e lhes proporcionar qualidade de vida, incluindo seus familiares. centram-se na valorização da pessoa doente e buscam o alívio dos sintomas que a afligem. a abrangência da sua prática, alcançando familiares e profissionais envolvidos, aciona um novo paradigma para cuidados ao fim da vida.  em nome da ética e da ciência, da dignidade e do bem-estar de cada ser humano é preciso tornar os cuidados paliativos uma realidade cada vez mais presente.




Claudia Burlá, membro da Comissão de Cuidados Paliativos da SBGG, conversou sobre “Ciência e Proteção ao Fim da Vida” no programa Café Filosófico, transmitido pela TV Cultura.
Claudia compartilhou sua experiência em relação a paliação, uma modalidade de intervenção indicada para pessoas com doença prolongada, incurável e progressiva, a fim de prevenir e aliviar o sofrimento e lhes proporcionar qualidade de vida, incluindo seus familiares.
A participação de Claudia integra uma série de quatro episódios do Café Filosófico, que teve como tema “A finitude face à revolução da longevidade”. Os próximos vídeos contam com Ligia Py (membro da Comissão Permanente de Cuidados Paliativos); da juíza Maria Aglaé Tedesco Vilardo. e de Alexandre Kalache, epidemiologista e membro honorário da SBGG.
O programa Café Filosófico é uma parceria do Instituto CPFL com a TV Cultura, e tem como objetivo compartilhar as ideias de grandes pensadoras e pensadores contemporâneos.