sábado, 30 de maio de 2020

Coronavírus e saúde mental. Tire suas dúvidas aqui!

Por: Fiocruz Brasília  14/04/2020

Em meio à pandemia, os cuidados com a saúde precisam ser redobrados. Toda a situação pode afetar também a saúde mental das pessoas, aumentando a ansiedade, insegurança, tristeza e outros sentimentos diante do isolamento social e das incertezas.

 Durante a terceira edição do Conexão Fiocruz Brasília, a instituição recebeu e ainda tem recebido por e-mail e pelas mídias sociais muitas perguntas sobre o novo coronavírus e a saúde mental. Para responder essas questões, em conjunto com a pesquisadora Débora Noal e a equipe do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) da Fiocruz, criamos um guia de perguntas e respostas, que você confere abaixo. 

 Leu o guia, mas não encontrou a resposta que procurava? Não se preocupe. A página está em permanente atualização e, em breve, teremos mais informações aqui. Inclusive, as respostas poderão ser atualizadas conforme avançam as evidências científicas sobre o assunto. Não deixe de acessar o nosso site e indicá-lo aos amigos e à família.  Informação de confiança e qualidade é a melhor prevenção!

SENTIMENTOS/EFEITOS COLATERAIS DO DISTANCIAMENTO SOCIAL E DA PANDEMIA

 Quais danos psicológicos desse confinamento para a população? A piora do estado de saúde mental das pessoas em época de quarentena é real?

 RESPOSTA: Durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados. Entretanto, é importante destacar que nem todos os problemas psicológicos e sociais apresentados poderão ser qualificados como doenças. A maioria será classificada como reações normais diante de uma situação anormal.

 Como lidar com as frustrações geradas pelo impacto do coronavírus?

 RESPOSTA: Entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, destacam-se, entre outras:

Reconhecer e acolher seus receios e medos, procurando pessoas de confiança para conversar;

Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas à pandemia.

Como se manter informado e lidar com a expectativa de piora do quadro de contaminação e mortes sem ter crises de ansiedade? Como evitar pensar nos cenários futuros (de doença e crise econômica)?

 RESPOSTA: Entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, destacam-se, entre outras:

Buscar fontes confiáveis de informação, como o site da Organização Mundial da Saúde;

Reduzir o tempo que passa assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas.

O que recomendam para as pessoas que moram só, incluindo as que vivem fora do país? Como lidar com a solidão?

 RESPOSTA: Entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, destacam-se, entre outras:

Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas;

Investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário).

Quais sugestões prioritárias e de fácil ação para os que estão em casa e já se sentem solitários e desmotivados?

 RESPOSTA: Entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, destacam-se, entre outras:

Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenha usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional;

Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente), bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia.

Como fazer para diminuir a sensação de que sempre estamos sujos? Acho que estou desenvolvendo TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Lavo o banheiro repetidamente todos os dias!

RESPOSTA: Durante uma pandemia, pensamentos e atitudes recorrentes sobre a saúde da nossa família (como as ações relacionadas à higienização da casa) estão entre as reações comportamentais mais comuns. Alguns critérios para determinar se uma reação psicossocial considerada esperada está se tornando sintomática e precisará ser encaminhada são: sintomas persistentes; sofrimento intenso; comprometimento significativo do funcionamento social e cotidiano; dificuldades profundas na vida familiar, social ou no trabalho etc. Nesses casos, e quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional, deve-se buscar um profissional de saúde.

 Como lidar com a procrastinação nos afazeres com tanto tempo disponível e não se culpar por isso? Como controlar o distúrbio alimentar com o aumento da ansiedade?

 RESPOSTA: Durante uma pandemia, letargia e alterações de apetite estão entre as reações comportamentais mais comuns. Alguns critérios para determinar se uma reação psicossocial considerada esperada está se tornando sintomática e precisará ser encaminhada são: sintomas persistentes; sofrimento intenso; comprometimento significativo do funcionamento social e cotidiano; dificuldades profundas na vida familiar, social ou no trabalho etc. Nesses casos, e quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional, deve-se buscar um profissional de saúde.

Qual a importância de coletividade para o enfrentamento da quarentena?

RESPOSTA: Ela é muito importante. Entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, destaca-se estimular o espírito solidário e incentivar a participação da comunidade.

 Quais os impactos da pandemia principalmente para os profissionais da saúde e pessoas com transtornos mentais?

RESPOSTA: O contexto de pandemia requer maior atenção ao trabalhador de saúde: ele está mais sujeito a ter sua saúde mental afetada, seja por situações vivenciadas direta ou indiretamente. É recorrente o aumento dos sintomas de ansiedade, depressão, perda da qualidade do sono etc. Os familiares dos profissionais de saúde também estão mais propensos a apresentarem sofrimento psíquico durante a pandemia.

 Esse contexto também pode provocar a descompensação de transtornos psíquicos preexistentes. Por isso, uma das linhas de ação consiste em atenção clínica especializada direta a pessoas que apresentam demandas mais complexas ou que já tenham histórico de distúrbios, transtornos e adoecimentos psicopatológicos anteriores à epidemia.

Quais as estratégias de saúde mental que podem ser usadas com a população economicamente vulnerável, que não tem recursos básicos mínimos para a sua sobrevivência e se preocupam com a falta de alimentos e de insumos básicos?

 RESPOSTA: O novo coronavírus e as populações em situação de vulnerabilidade e de rua foi o tema da terceira edição do Conexão Fiocruz Brasília, que pode ser conferida aqui

 Será que estamos usando o termo correto de isolamento social? Não seria mais correto se usar afastamento físico? Não estamos todos muito ativos e conectados em redes sociais?

 RESPOSTA: Sim, o afastamento é físico e, inclusive, recomenda-se, entre as estratégias de cuidado psíquico em situação de pandemia, manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas.

Como lidar com vícios nesse período de quarentena? Qual a recomendação para as famílias nas questões relacionadas a uso abusivo álcool como fuga de contato com este momento?

 RESPOSTA: A recomendação é evitar o uso de tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções. Quando a primeira fase da epidemia não recebe um suporte adequado em saúde mental e atenção psicossocial, pode-se encontrar, depois, um grande número de pessoas com problemas como depressão, consumo excessivo de álcool e outras drogas, comportamento violento etc.

 Como ajudar uma pessoa que está com muita ansiedade e nunca realizou tratamento, mas devido às crises passar a ter sintomas parecidos com o do coronavírus?

 RESPOSTA: Durante uma pandemia, reações como essa não são incomuns e existem estratégias para lidar com elas, como investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente), bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia. Entretanto, caso as estratégias recomendadas não sejam suficientes para o processo de estabilização emocional, é importante buscar auxílio de um profissional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial (SMAPS) para receber orientações específicas.

Depois que isso passar, será que vamos vivenciar um aumento dos números de suicídio?

 RESPOSTA: A violência doméstica e a conduta suicida são complicações graves que podem estar associadas ao contexto de pandemia. Isso reforça a importância do acolhimento e da garantia de atenção psicossocial para situações emergenciais, como crise psicótica e tentativa de suicídio, entre outras. Reforça também que as estratégias de intervenção em saúde mental são importantes “antes”, “durante” e “depois” da epidemia.

Leia mais nas cartilhas Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – recomendações para gestores

 SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE E FAMILIARES

 Qual orientação para os gestores e profissionais de saúde que trabalham diretamente com a assistência? Como incentivar os profissionais que estão na linha de frente dos atendimentos aos doentes? Como diminuir ou minimizar o medo e ansiedade da equipe e dos profissionais de saúde?

RESPOSTA: No cuidado psicossocial aos trabalhadores de saúde, entre outras iniciativas, recomenda-se:

Fazer um acompanhamento relativo ao bem-estar da equipe de forma regular, deixando-a à vontade para falar sobre seu estado mental e sua capacidade de trabalho;

Municiar a equipe com conhecimento sobre a doença e treinamento sobre o uso adequado dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs);

Alternar os trabalhadores entre atividades de alta e baixa tensão;

Cuidar para que existam espaços adequados para alimentação e descanso;

Garantir que os trabalhos sejam realizados em turnos definidos, com descanso regular;

Divulgar ações de cuidado em saúde mental disponíveis para os trabalhadores, como suporte psicológico online, equipes de saúde mental que possam atendê-los e/ou atuar junto a eles in loco com os pacientes, até núcleos de saúde do trabalhador.

 Como cuidar da saúde mental da família dos profissionais que não podem parar? Qual a melhor estratégia para ajudar os profissionais de saúde quando têm medo de se contaminar e contaminar a família?

 RESPOSTA: Trabalhadores de saúde e também seus familiares estão mais propensos a apresentarem sofrimento psíquico durante a pandemia. É importante que os profissionais busquem colegas de trabalho e supervisores que possam compartilhar das mesmas dificuldades, buscando soluções compartilhadas. Garantir comunicação de boa qualidade e atualizações precisas das informações pode ajudar a atenuar as preocupações com as incertezas que os trabalhadores têm. É importante realizar reuniões periódicas com a equipe, onde as questões que surgirem possam ser faladas por todos. Manter a equipe protegida contra estresse crônico e problemas de saúde mental significa que ela terá uma melhor capacidade para desempenhar suas funções. Não responsabilize individualmente o trabalhador que não estiver conseguindo lidar com a situação.

 O que propor no ambiente hospitalar para melhorar o trabalho dos profissionais? Como cuidar da saúde mental do profissional de saúde nesse período? E após?

 RESPOSTA: Mesmo após a pandemia, é fundamental atenção à saúde mental das equipes que trabalharam na linha de frente, particularmente daqueles profissionais que trabalharam junto aos casos mais graves.

Como trabalhar com o luto?

 RESPOSTA: Entre os princípios básicos para a elaboração de um plano de resposta em saúde mental e atenção psicossocial para a pandemia Covid-19, destaca-se criar condições para o desenvolvimento de funerais e ritos de passagem culturalmente aceitos que garantam a biossegurança, mas que permitam que os ritos culturais sejam realizados, a fim de mitigar os impactos de um possível luto patológico.

 Como você vê o atendimento online? E os grupos terapêuticos online? Quais são as principais ferramentas de mediação? Como abordar os públicos diversos no atendimento e acolhimento, uma vez que nosso contato agora se dá virtualmente?

 RESPOSTA: O atendimento online apresenta vantagens para a oferta de suporte psicossocial durante a COVID-19, uma vez que corrobora com as recomendações de distanciamento social, quarentena e/ou isolamento domiciliar. Dessa forma é possível evitar a circulação desnecessária e, ao mesmo tempo, garantir atendimento psicossocial e/ou psicoterápico de qualidade. A migração para o atendimento remoto exige adequações da prática do psicólogo para o atendimento deve seguir o código de ética das categorias profissionais, informações dos conselhos profissionais e autoridades sanitárias.

 Muito se fala dos profissionais de saúde das linhas de frente, mas existe tbm um exército auxiliar que ainda está invisível. Limpeza, alimentação, etc, também estão atuando junto e sofrendo. Como cuidar?

 RESPOSTA: Os cuidados – acompanhamento relativo ao bem-estar, espaço para falar sobre suas emoções e estado mental, informações acessíveis, treinamento sobre uso de EPIs etc. – devem se estender igualmente a todos os trabalhadores envolvidos, nas diferentes funções.

Leia mais nas cartilhas Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – recomendações para gestores

 SE ISOLAR OU NÃO … EIS A QUESTÃO

 O que fazer ao presenciar casos de agressão física de vizinhos? O número de mulheres agredidas têm aumentado, mas em caso de denúncia não sei o que mudaria neste período de epidemia…

RESPOSTA: O aumento da violência doméstica é uma complicação grave que pode estar associada ao contexto de pandemia.  Como profissional de saúde, é preciso estar particularmente atento ao aumento da violência doméstica para o devido registro de casos e seu encaminhamento às esferas competentes, para a punição dos agressores.

 Que fases ou estágios costumamos ter que vivenciar nas pandemias?

 RESPOSTA: Na estruturação de um plano de resposta em saúde mental e atenção psicossocial, é fundamental compreender o “antes”, o “durante” e o “depois”. Para cada fase, é importante compreender os impactos e as demandas da população de modo que os gestores possam implantar as estratégias adequadas.

Leia mais nas cartilhas Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – recomendações para gestores

SAÚDE MENTAL DAS CRIANÇAS/ ADOLESCENTES/ALUNOS

 Compartilhe conosco experiência com o cuidado da saúde mental da infância e adolescência em período de crise.

 RESPOSTA: Crianças têm uma forma diferente do adulto de compreender a pandemia e de comunicar seus sofrimentos e pesares. É importante, portanto, pensar estratégias de cuidado específicas para elas. Algumas crianças negam completamente ou se mostram indiferentes quando confrontadas com situações que causam grande sofrimento, como o afastamento dos avós, colegas e professores da escola. O impacto emocional gerado pelo sofrimento agudo, quando não adequadamente manejado, pode ser tão grave que as crianças se recusem a falar sobre o que viveram. Ajude as crianças a encontrar maneiras de expressar sentimentos, por meio de atividades criativas, como brincar e desenhar.

 SAÚDE NAS ORGANIZAÇÕES/EMPRESAS

Como orientar em relação a saúde mental dos que trabalhadores dentro das indústrias que não podem ficar em casa?

 RESPOSTA: Se você estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho e entre os turnos (se possível em um local calmo e relaxante). Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual. É importante que todos os trabalhadores tenham acompanhamento relativo ao seu bem-estar, espaço para falar sobre suas emoções e estado mental, informações acessíveis, treinamento sobre uso de EPIs etc.

 

VARIEDADES

 Qual a importância do exercício físico?

 RESPOSTA: É importante investir em ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo. O exercício físico pode ser uma dessas ações.

 Como deve ser o cuidado com as crianças, em especial com aquelas que precisarem ser hospitalizadas?

RESPOSTA: Pesquisadores colaboradores do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) respondem na cartilha Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – recomendações para o cuidado de crianças em situação de isolamento hospitalar.

 A abordagem dos Cuidados Paliativos pode ser útil no contexto da pandemia de Covid-19?

RESPOSTA: Pesquisadores colaboradores do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) respondem na cartilha Saúde e Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia Covid-19 – cuidados paliativos – orientações aos profissionais de saúde.

 

 do site: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/coronavirus-e-saude-mental-tire-suas-duvidas-aqui/

em 30 de maio de 2020


terça-feira, 26 de maio de 2020

RECOMENDAÇÃO Nº 042, DE 22 DE MAIO DE 2020.Recomenda a suspensão imediata das Orientações do Ministério da Saúde para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da COVID-19, como ação de enfrentamento relacionada à pandemia do novo coronavírus.

O Conselho Nacional de Saúde, no uso de suas competências regimentais e atribuições conferidas pela Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990; pela Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990; pela Lei Complementar no 141, de 13 de janeiro de 2012; pelo Decreto no 5.839, de 11 de julho de 2006, e cumprindo as disposições da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/1988) e da legislação brasileira correlata;

Considerando a divulgação das Orientações do Ministério da Saúde para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da COVID-19, orientando o uso de cloroquina e hidroxicloroquina associados a outros medicamentos para pacientes em sintomas leves de COVID-19, e que até o momento não existem evidências científicas robustas que possibilitem a indicação de terapia farmacológica específica, conforme afirmado na próprias orientações do Ministério da Saúde;

Considerando que o momento excepcional provocado pela pandemia desencadeada pelo vírus SARS-Cov-2, COVID-19, não pode significar que a racionalidade deva ser abandonada nem que a população deva ser exposta a condições de maior vulnerabilidade;

Considerando a publicação das orientações do Ministério da Saúde, que não se baseia em evidências científicas, relaciona referências de estudos já criticados pela comunidade científica e não cita estudos e artigos atuais;

Considerando o descumprimento da legislação do SUS, em razão da ausência de alteração do registro da cloroquina/hidroxicloroquina junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no que diz respeito ao uso off label desses medicamentos (Lei nº 6.360/1976 e a lei nº 8.080/1990) e também da ausência de evidências científicas necessárias ao embasamento da adoção de medidas de combate ao novo coronavírus (Lei nº 13.979/2020);

Considerando que não foi observado o processo determinado pela Lei nº 8.080/1990 no que tange à necessidade de análise e elaboração de diretrizes terapêuticas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC);

Considerando a necessidade inequívoca de evidência científica até mesmo para o uso compassivo (por compaixão) de qualquer medicamento, conforme previsto na Resolução RDC 38/2013 da Anvisa;

Considerando que todas as informações relativas à pandemia ainda são preliminares, tendo em vista que a doença causada pelo vírus SARS-Cov-2, COVID-19, impõe uma série de novas e complexas situações que, por isso, geram lacunas de informação e conhecimento relativos a taxas de letalidade, potencial de transmissão, tratamento, existência de outros efeitos ou sequelas no organismo dos que foram infectados, entre outros;

Considerando que até esse momento, os resultados têm demonstrado que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem não ter eficácia para o tratamento de pacientes com COVID-19, incluindo pacientes com sintomas leves;

Considerando que a adoção da cloroquina/hidroxicloroquina é uma decisão política tomada por não especialistas em saúde e que, segundo dados do próprio Ministério da Saúde, as hospitalizações de pretos e pardos com síndrome respiratória aguda grave representam 23,1% do total, mas as mortes dessas parcelas da população somam 32,8%, o que reforça os processos de extermínio promovidos pelo Estado brasileiro contra a população negra e outros grupos vulnerabilizados, como indígenas, ciganos, quilombolas, moradores de favelas, bairros periféricos, terreiros, assentamentos, populações do campo, em situação de rua etc.;

Considerando  a importância e o papel da ciência e da tecnologia estratégicos para a busca de soluções para a prevenção e tratamento da COVID-19, bem como as conclusões já publicadas em revistas científicas, como a The New England Journal of MedicineJAMAThe BMJ 1 e The BMJ 2, que tem demonstrado apenas efeitos indesejáveis do uso desses medicamentos, incluindo problemas cardíacos;

Considerando que o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) divulgou, no dia 21 de abril deste ano, documento contendo uma série de recomendações contra o uso da cloroquina, em especial, a hidroxicloroquina, associada a azitromicina, no combate à COVID-19, tendo em vista por um lado, os severos efeitos colaterais dos compostos, com episódios de arritmia cardíaca e até envenenamento e, por outro, a insuficiência de resultados clínicos suficientes para fazerem do medicamento utilizado contra a malária, lúpus e artrite reumatoide uma boa alternativa no tratamento da doença provocada pelo novo coronavírus;

Considerando as diretrizes de entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e Associação de Medicina Intensiva Brasileira, que já emitiram um comunicado no dia 18 de maio contraindicando a cloroquina e a hidroxicloroquina (e outros remédios experimentais) em qualquer estágio da COVID-19;

Considerando que a necessidade de avaliação dos pacientes através de anamnese, exame físico e exames complementares nos equipamentos de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), trará um grande impacto à atenção primária e de média complexidade, ao qual o sistema não está adaptado para regular neste presente momento; e

Considerando as atribuições conferidas ao presidente do Conselho Nacional de Saúde pela Resolução CNS nº 407, de 12 de setembro de 2008, Art. 13, Inciso VI, que lhe possibilita decidir, ad referendum, acerca de assuntos emergenciais, quando houver impossibilidade de consulta ao Plenário, submetendo o seu ato à deliberação do Pleno em reunião subsequente.

Recomenda ad referendum do Pleno do Conselho Nacional de Saúde

Ao Ministério da Saúde:

1.         Que suspenda as Orientações para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da COVID-19, publicadas em 20 de maio de 2020, autorizando uso de cloroquina/hidroxicloroquina para tratar sintomas leves da COVID-19;

2.         Que não libere uso de qualquer medicamento como preventivo ou para tratamento da COVID-19 pela ausência de confirmações de uso seguro aos usuários; e

3.         Que, assessorando o governo federal, desempenhe seu papel na defesa da ciência e a redução da dependência de equipamentos e insumos, construindo uma ampla e robusta produção nacional.

Ao Ministério Público Federal:

Que, em razão do descumprimento da legislação do SUS e dos riscos à saúde da população brasileira, representados pela utilização da cloroquina e da hidroxicloroquina no contexto da pandemia pelo novo coronavírus, tome as devidas providências para que as orientações para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da COVID-19, publicadas pelo Ministério da Saúde, sejam suspensas.

 

FERNANDO ZASSO PIGATTO

Presidente do Conselho Nacional de Saúde

O abraço amoroso do universo à Terra

Em tempos bioéticos, estamos reativando as postagens do blog.
Ausentes novas postagens, desde final de 2017, retornamos em maio de 2020 para trazer as discussões recentes da bioética e do biodireito.
O mundo correu nestes dois anos e estamos agora em quarentena, 
O mundo globalizado.  A Terra-Pátria de irmãos humanos, fraternos. 
O que fizemos de nossas vidas nestes dois anos? O que a humanidade fez nestes dois anos? O que a bioética nos ajudou a entender e debater?
Estamos com nossos direitos e garantias fundamentais e individuais extremamente restritos. O valor deste sacrifício é medido pelas consequencias na proteção de toda a coletividade, das pessoas que amamos, dos parentes queridos, dos amigos, dos vizinhos e colegas do trabalho, de todos os seres humanos.
Pouco nos preocupamos com o planeta, com a nossa vegetação, com os nossos animais, com os nossos seres que habitam o planeta.
Agora estamos sofrendo as consequências de tudo o que vivenciamos e da forma como conduzimos.
Temos medo. Medo da finitude, medo do desconhecido, medo de não suportarmos o que vem pela frente.
Conversar sobre nossos medos e revisarmos o nosso comportamento de antes é um passo decisivo.
Queremo uma vida normal, sem restrições, mas o que queremos é só para nós ou para os demais seres humanos? Temos vontade de desejar o mesmo para a humanidade toda? Ou estamos apenas em uma retórica para afastar o medo.
O mundo globalizado nos deu muita comunicação e pouca compreensão. Ajudamos as pessoas que precisam com o que nos sobra, por isso podemos doar.
Deveríamos agir não só solidariamente, o que fazemos pouco, mas fraternalmente, igualando cada um e todos em um processo de fraternidade no qual se eu tiver todos terão e se eu tiver pouco, todos terão pouco. O que não parece possível é que alguns tenham demais, outros tantos tenham muito e a grande parte dos seres humanos tenha quase nada, algo que não aceitaríamos para nós mesmos.
Volta o blog com experiências, relatos, notícias e reflexões querendo se tornar um instrumento informativo, de comunicação e trocas. 
Que seja uma tentativa de aplicar a fraternidade!
O abraço amoroso do universo à Terra- Frida Khalo