Jones Rossi
O acréscimo de dois novos elementos à tabela periódica recentemente – os quase impronunciáveis ununquádio e ununhéxio – representa mais um capítulo da busca pelos blocos fundamentais do universo, os elementos químicos.
Por milhares de anos, da Babilônia à Índia, passando pela Grécia e China, diferentes civilizações patinaram no conceito de que tudo era formado apenas por quatro elementos clássicos: água, terra, fogo e ar. Eventualmente, um quinto elemento, o éter, era adicionado a esse grupo.
Somente no século XVIII, mais precisamente em 1789, ano da Revolução Francesa, o francês Antoine Lavoisier compilou a primeira lista com 33 elementos, tirando a química do terreno da alquimia e lançando as bases para avanços científicos sem precedentes.
A segunda revolução veio na década de 1860. O então desconhecido químico russo Dmitri Mendeleiev participou de um congresso na Alemanha, organizado por August Kekulé, que apresentou várias descobertas sobre os elementos químicos. Quase dez anos depois, publicou a tabela periódica, então com 63 elementos, capturando toda a química em um sistema tão organizado e natural que sofreu mínimas alterações até os dias atuais (confira cinco curiosidades sobre os elementos químicos).
No esquema, os elementos químicos são ordenados conforme seu número atômico (quantidade de prótons) e agrupados em colunas (grupos de elementos com propriedades químicas semelhantes, como os gases nobres) e linhas (os períodos, nos quais os elementos têm o mesmo número de camadas de elétrons). A disposição ajuda a prever propriedades e reações de todos os elementos que compõem o universo.
O modelo mudou pouco, mas a relação de elementos aumentou consideravelmente - como Mendeleiev havia previsto desde o princípio. Hoje são 114 os elementos químicos confirmados oficialmente, desde os que são encontrados na natureza, como o ouro e o cobre, até os que só podem ser sintetizados em laboratório, como o próprio Mendelévio, descoberto em 1955 e produzido em quantidade insuficiente para ser observado a olho nu. E a busca por essas peças que compõem tudo que existe ainda é motivo para uma corrida científica intensa.
Ao contrário dos tempos da Guerra Fria, quando havia polêmica até na hora de batizar os elementos (houve reações negativas nos Estados Unidos quando deram, em 1955, com toda a justiça, o nome de Mendelévio ao elemento 101, descoberto na Universidade de Berkeley), os laboratórios nos Estados Unidos e na Rússia disputam amigavelmente a criação ou descoberta de novos elementos. Muitas vezes, unem esforços nas pesquisas, como no caso dos novos ununquádio e ununhéxio.
Confirmar um achado do gênero pode levar anos. Os elementos mais pesados da tabela são altamente radioativos e em questão de milésimos de segundos decaem, dando origem a átomos mais leves. Assim, sua existência muitas vezes só pode ser comprovada através de complexas equações matemáticas. Um dos dois novos elementos adicionados à tabela, o 114, estava sendo estudado por diversos laboratórios desde 1999, mas somente agora foram reunidas provas consistentes de sua existência.
Para que então se dar ao trabalho de investir tempo e dinheiro na busca de novos elementos que, em sua maioria, existem apenas por milésimos de segundos? Yuri Oganessian, do Joint Institute for Nuclear Research de Dubna, na Rússia, responsável pelos recém admitidos elementos 114 e 116, dá uma pista do que os move, em entrevista publicada no livro Periodic Tales. "As descobertas são menos importantes como troféus e mais como uma maneira de entender melhor o mundo.”
Glenn Seaborg (1912-1999), responsável por batizar o Mendelévio, e ele próprio inspirador do seabórgio, o elemento 106, já predisse que a tabela periódica deve chegar até o elemento 168. A tecnologia para sintetizar os elementos entre 112 e 118 só foi desenvolvida na última década. Então é de se esperar que a tabela periódica continue crescendo à medida que tentamos explicar mais sobre o mundo e o universo, a partir de sua peças mais ínfimas, sem as quais, porém, nada existiria.
do site da veja
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