sábado, 23 de março de 2013
Sexualidade dos idosos ainda é tabu na sociedade
Mais de 18 mil novos casos de Aids entre pessoas com idade igual ou superior a 60 anos foram notificados entre 1980 e 2012, de acordo com o Boletim Epidemiológico do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Aids do Ministério da Saúde divulgado em 2012. Para o presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), Rodrigo da Cunha Pereira, os números indicam que a incidência de HIV na terceira idade está ligada a uma questão cultural e revela a ignorância sobre a sexualidade dos idosos.
“A maioria da população ativa pensa que os idosos não têm sexualidade. É o que pensavam os governos anteriores e também atuais. Prova disto é o crescente número de pessoas com Aids na terceira idade. É que todas as campanhas do Ministério da Saúde para prevenção das doenças sexualmente transmissíveis ignoram as pessoas mais velhas, como se elas não tivessem sexualidade,” explica.
A psicanalista Giselle Groeninga, diretora nacional do IBDFAM, acredita que estamos atravessando uma fase de quebra de preconceitos; e um dos resultados disto é, inclusive, o aumento dos casos de Aids. “Contribuindo com as mudanças sociais para a diminuição do preconceito há fatores como: a ampliação dos direitos da personalidade, dos direitos das mulheres, aumento do tempo de vida e melhoria das condições de saúde, a difusão das reposições hormonais para as mulheres e, sem dúvida, o "efeito viagra" para os homens. Com relação aos "efeitos colaterais indesejáveis desta revolução – o aumento dos casos de AIDS, devemos lembrar também que aquela é uma geração que não foi acostumada com a utilização de preservativos”, completa.
SEXO SEM CULPA
A psicanalista explica que parte da resistência às manifestações da sexualidade dos idosos advém da tentativa de poder de uma geração sobre a outra e vem da ditadura do "fisicamente perfeito" e da sociedade de consumo. “Há ainda um resquício do amálgama entre sexo e procriação. Acredito que o principal entrave está no fato deste grupo ser mais vulnerável à submissão à ditadura dos padrões estéticos. Aliás uma submissão que atinge não só aos idosos”, explica.
Porém, numa época em que aumentaram os divórcios, a expectativa de vida, qualidade de vida, dentre outros, a busca por relacionamentos na terceira idade cresceu. Segundo o IBGE, o número de casamentos de idosos praticamente duplicou entre 2003 e 2011. Em 2003, 6.528 mulheres se casaram com mais de 60 anos. Em 2011, foram 12.092. Com relação ao casamento de homens com mais de 60 anos, os números são ainda maiores: em 2003 foram 20.693 casamentos e em 2011, 34.047. “O tabu que se quebra atualmente é a das repressões, dos limites. A chamada terceira idade passou a ser vista como um ultrapassar dos antigos limites e não pode ser identificada necessariamente como diminuição de vida e proximidade da morte”, analisa.
Giselle explica ainda que, na terceira idade, a tendência é que se unam as duas formas de manifestação da libido – a da sexualidade propriamente dita, em seu sentido genital, e a do amor. E a peculiaridade desta fase da vida está no acúmulo de experiências que pode tanto demonstrar a capacidade em se aprender com a trajetória ou a de se acumular ressentimentos. Há ainda a capacidade em se regozijar com os ganhos das outras gerações, ao invés de uma postura passiva e muitas vezes invejosa e ressentida. “A identidade sexual é sempre questionada de diferentes formas e de acordo com as diferentes etapas da vida. Assim, as vulnerabilidades e inseguranças variam de acordo com a época. E, claro, a sexualidade é vivida de forma diferente. Impossível um idoso viver a sexualidade como um adolescente e vice-versa. Não se vêem muitos velhos "ficando’”, exemplifica.
As mudanças hormonais, de acordo com a psicanalista, também contribuem para que se encontrem outras formas que não privilegiem tanto o aspecto genital. A sexualidade representa o impulso de vida e opõe-se ao impulso de morte que é indiferença, desligamento; implica mais do que manifestações físicas, envolvem o físico, o mental e, sobretudo os aspectos emocionais.
“O interessante é que o inconsciente não tem idade e, assim, a libido não envelhece, muda a produção de hormônios e modificam-se as manifestações da libido e sua aceitação pessoal e social, ou não. Claro que a paixão – o perder-se no outro, dá medo, isto em qualquer idade”, reflete.
DIREITO DE FAMÍLIA PARA OS IDOSOS
Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), revelam que até o ano de 2025, o Brasil será o sexto país em população de idosos, o que reforça a necessidade de políticas inclusivas para a redução do preconceito contra essa faixa etária. Segundo Rodrigo, “o preconceito tem produzido injustiças e equívocos nas políticas públicas de saúde, especialmente para os idosos, e, conseqüentemente, de proteção às famílias”.
Para ele, o ideal é que o Estatuto do Idoso, implementado em 2003, faça parte das políticas públicas, como ato de respeito e dignidade da pessoa humana, já proclamada na Constituição da República de 1988. “Para que isto seja possível, é necessário derrubar preconceitos, reconhecer a sexualidade na ordem do desejo e, portanto, integrante da vida até a morte. É necessário também reconhecer que, se os idosos não são mais produtivos, já deram sua parcela de contribuição econômica. Isto significa, em última análise, reconhecer e atribuir-lhes lugar de sujeito na vida”, explica.
Além do Estatuto do Idoso, existe uma série de leis sobre o assunto contempladas pelo Direito de Família. “Por exemplo, há o direito de visita dos avós, há a responsabilidade solidária com relação aos alimentos, e também seu lugar é contemplado na lei que versa a respeito da Guarda Compartilhada quando é feita referencia à importância dos vínculos de afeto das crianças com a família extensa. Com relação ao Direito de Família e das Sucessões, muitas vezes a preocupação com herança pode levar à tentativa de restringir os relacionamentos que um idoso possa ter. De certa forma, é este o medo que está presente com o regime obrigatório depois de determinada idade e mesmo com a concorrência sucessória que trouxe, indiretamente, dificuldades e mesmo um cerceamento a que se estabeleçam novas uniões”, completa Giselle.
do site do IBDFAM
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