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MARIA AGLAÉ TEDESCO VILARDO
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Ressocialização esbarra em tabu e falta de informação - Reincidência de crimes de internos de manicômios é de 5%, contra 70% de detentos comuns
Christina Nascimento
Rio - Um estudo inédito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
mostra dados preliminares que revelam que o índice de reincidência de crimes
entres portadores de sofrimento mental é menor do que 5%. No sistema
penitenciário tradicional, esse número chegaria a 70%. Isso quebra um dos
paradigmas sociais que trava o processo de ressocialização de internos de
manicômios judiciais. Neste domingo, O DIA mostrou que 70
pacientes do Hospital Heitor Carrilho já estão em liberdade judicial, mas foram
esquecidos na unidade por familiares e o governo municipal.
“A população faz muita confusão entre psicóticos e o psicopatas. Esses
últimos são altamente perigosos e não respondem a nenhum medicamento. Trata-se
de um transtorno grave de personalidade do indivíduo. Já o que temos nos
hospitais de custódia são pacientes que, com tratamento adequado, conseguem
voltar para o convívio social”, afirmou Kátia Mecler, que com o também professor
da UFRJ César Augusto Rodrigues Costa, conduz o estudo sobre reincidência de
crimes no sistema penitenciário.
Jagunço, de 56 anos, deveria estar em liberdade há dois anos,
mas permanece abrigado no Instituto Heitor Carrilho: ele diz que não tem
parentes
Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Dos 70 pacientes que moram no Heitor Carrilho, há casos de pessoas
que estão em liberdade há 20 anos. Deles, 34 são da capital e estão aguardando
uma vaga em residências terapêuticas — casas mantidas pela prefeituras para
auxílio psicossocial — , como determina a lei, em caso de ausência ou recusa da
família. Os demais, também liberados pela perícia psiquiátrica, porque foi
considerada “cessada a sua periculosidade”, são de 17 outros municípios.
A Secretaria Municipal de Saúde alegou que os 34 abrigados no sistema
carcerário já tiveram suas situações e quadros clínicos mapeados pelas equipes,
para definir as necessidades e a melhor forma de inserção social de cada um.
Segundo o órgão, ainda, o processo de saída segue o cronograma ajustado com o
Ministério Público. No entanto, não informou qual é o prazo para a solução do
problema.
Já a prefeitura de Duque de Caxias, que tem três ex-internos no Carrilho,
disse que pediu à direção da unidade um relatório para saber se é necessário que
eles tenham o acompanhamento pelo Centro de Atenção Psicossocial. Paciente que ganhou liberdade há dois anos ainda está
internado
Jagunço, 56 anos, como ele se apresenta, se mostra lúcido: “Chega de cadeia.
Já paguei o que fiz”. Diagnosticado com transtorno mental, ele tem na ficha dois
homicídios. Entrou para o Heitor Carrilho há 13 anos, e há dois está em
liberdade, apesar de continuar morando no antigo manicômio.
Nascido Paulo Roberto Santos, ele fala do passado com uma certa autonomia.
Diz com exatidão o nome de um ex-governador do Espírito Santo, o prédio onde
trabalhou, nos anos 80, e lamenta não ter parentes. “Acho que eles morreram.
Estou melhor do que antes, quando entrei aqui. Agora, sei que não dei a vida
para ninguém, por isso não posso tirá-la”, diz ele, que oscila visivelmente de
humor quando fala das ‘facadas’ que desferiu nas suas vítimas.
Desde março, o antigo Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Heitor
Carrilho, que fica sob responsabilidade da Secretaria de Administração
Penitenciária (Seap), passou a se chamar Instituto de Perícias Heitor Carrilho.
No próximo dia 8, será feita a inauguração oficial da unidade. Lá, são
realizadas todas as perícias psiquiátricos referentes a crimes no estado. O
objetivo é que, com o tempo, o local se torne uma referência no país na área de
assuntos criminais envolvendo portadores de sofrimento mental.
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